Teresa Moure sobre o Mecanismo de Emergência

A maioria dos escritores não dispomos da facilidade/felicidade do Tiago Alves Costa para acertar com a arte poética. Tentamos ir ter com ela e ela escapa, como um amante que não acudisse à cita. Se calhar, para entreter o tempo e por aguardá-la, começamos a escrever histórias. É bom assim, um relato bem contado não faz mal. Como temos que nos inventar personagens, os poetas fracassados não podemos incorrer em desvios, nem nos permitir o prazer de apropriar-nos da linguagem. Servimos ao relato. Mentimos. Não devem julgar-nos duramente por esta insistência em inventar-nos tudo. É possível que coloquemos palavras em boca duma personagem para a melhor caracterizar –nem sempre por pensarmos exactamente isso–, mas essa é uma das formas mais suaves da mentira. Na sociedade, um juiz ou um médico têm nome; isso significa que acumularam durante os anos de vida profissional um certo prestígio. Porém, um escritor deste grupo dos romancistas não consegue nome da mesma forma. Antes de mais, o seu prestígio procede de ter inventado histórias falsas. É um grande mentiroso que, em vez de ver-se desprezado pela sua condição, é considerado justamente por ela. Nada muito respeitável…

continua por aqui: Tecer Aranheiras

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